Descobrimos que o titulo “Descoberta” é interessante por endereçar três questões ao mesmo tempo. Uma, a nudez, que vai além da nudez física. Duas, eu descobri o meu lugar de fala. Três, a obra foi uma descoberta de como eu e a Carol fizemos um trabalho em conjunto.

 

Esta série de trabalhos é o resultado contínuo de uma pesquisa sobre o nu da mulher, mais especificamente a minha parceira (Carol Magalhães) artista, e como um homem heterossexual pode ter uma leitura que abranja sensibilidade junto com a sexualidade, e enxergar a mulher com um corpo empoderado e como agente de mudança. Tenho muita empatia com as questões que as mulheres sofrem em um âmbito global, mas não posso me colocar como se soubesse como é ser mulher. Mas sei dizer o que sinto diante do corpo dela. E sei dizer muito bem como o machismo me machucou durante os anos. A série é uma projeção minha sobre o corpo da mulher. A obra está sim em uma posição de embater a norma dentro da história da arte. História essa que deixou de lado muitos aspectos de pessoas que não são brancas, hétero e ricas. Mas é claro que as obras deixam uma janela aberta para várias interpretações.

 

A minha posição fica sempre de estar disponível para ajudar em qualquer luta que a mulher queira levantar. E isso não serve só para mulheres. Como um artista contemporâneo e por ser homem heterossexual e branco tenho acesso a lugares que outras pessoas não tem, e disso quero fazer proveito para levantar pessoas pretas, indígenas, deficientes, e de qualquer gênero e que sofram algum tipo de preconceito. E como isso se dá? Tenho um envolvimento com a ONG Amalgamar que se propõe a fazer a inclusão de todas as pessoas que não tem os seus direitos reconhecidos. Portanto, tenho a intenção de repassar uma parte do dinheiro para esta instituição. 

 

Eu e a Carol, fundamos um ateliê chamado tomcatudili, onde temos a proposta de fazer um ateliê aberto, no sentido de encontros de acompanhamento de outros artistas. Essa iniciativa nasceu de já estarmos ajudando alguns artistas e um ao outro. 

 

A série está em andamento e está em constante amadurecimento.  Encaro como um novo significado aos corpos femininos dando uma transparência ao corpo físico ao dizer, há mais do que aparenta, há mais do que a superfície. Em contraponto pode ser lido como a mulher é invisívibilidade dentro dos seus direitos básicos e humanistas, e além disso, como não são ouvidas. Ao final da série coloco um grande rosto da minha parceira que encara o visitante de frente. 

 

O fundo que aparece como uma cor esbranquiçada que não cobre completamente o fundo anterior, está cumprindo a função de um vazio. Como se ela estivesse em uma vacuidade, criando-se a partir do nada. A obra é um híbrido da linguagem do desenho e da pintura. 

Brinco com camadas secas e molhadas. Desenhando em cima deles e às vezes esculpindo na tinta molhada. Os materiais são deliberados. Nasceram de uma falta de dinheiro, mas agora fazem todo o sentido, tinta barata, papel barato e sem verniz para que qualquer alteração no transporte e manuseio possa deixar uma marca na pintura. 

 

É um trabalho que acolhe o acaso. Na verdade, o trabalho depende de casualidade, pois desenho uma figura em cima de um fundo abstrato sem saber ou planejar como o fundo ficará no final. O trabalho deve ser suspenso com pregos em cada canto, perfurando o papel e deixando uma marca. E a parte superior da pintura deve ter estar na altura de 2 metros, para que a imagem das mulheres fique acima do espectador.

 

Créditos: Carol Magalhães (Co-autora), Mô Borba (Curadoria e crítica)

Técnica: Lápis litográfico e tinta acrílica sobre acetato sobre papel

Dimensão: Média - Cada obra tem 118 cm de largura.

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